Solidariedade com Mamadou Ba
- 3 minutes read - 456 wordsNo dia 27 de outubro de 2022, o juiz Carlos Alexandre, 24 horas após a realização do debate instrutório, decidiu dar seguimento ao processo de difamação do ex-dirigente do movimento nacionalista Nova Ordem Social, Mário Machado, contra o dirigente do SOS Racismo, Mamadou Ba. Em causa está uma publicação feita pelo ativista, em 2020, por o ter chamado de “assassino neo-nazi” pela sua participação nos eventos da noite do dia 10 de junho de 1995, antigo Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas, que culminaram em vários linchamentos e na morte de Alcindo Monteiro.
A verdade é que Mário Machado, apesar de não ter sido condenado diretamente pela morte de Alcindo, viria apenas a cumprir dois anos e seis meses de prisão pelo envolvimento num crime racial.
Segundo o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 1997, Mário Machado possuía naquela noite um “pau semelhante a um taco de baseball”, podendo-se ler também que “Enquanto agrediam o ofendido, estes 15 arguidos iam gritando: ‘Este é preto, mata-o!'; ‘Filho da puta’; ‘Preto’; ‘Vai para a tua terra que isto aqui não é lugar para ti’”.
Machado é descrito no Acórdão como delinquente primário que denota “completa ausência de arrependimento”. Além disso, todos os arguidos sabiam que poderiam causar mortes e estavam contentes com qualquer resultado da sua ação: “bem sabiam os arguidos intervenientes em cada uma das agressões […] que os objetos que utilizaram (soqueiras, paus, botas militares e outras com biqueiras em aço, garrafas partidas, ferros) revestem características que, quando usados da forma referida, são aptos a causar lesões susceptíveis de provocar a morte aos atingidos ou a colocá-los em risco de vida ou de causar uma grave ofensa à sua integridade física. E que todos iriam fazer uso desses objetos, o que queriam, conformando-se com o resultado das agressões praticadas com os mesmos”.
Se “tão ladrão é quem vai à horta como quem fica à porta”, tão assassino é quem mata como aquele que grita “este é preto, mata-o”.
Este julgamento é a prova que existe, por parte de algumas pessoas, a tentativa de normalização do braço violento da extrema direita. Por esse motivo, é essencial contrariar esta normalização, apoiando os ativistas que estão a ser utilizados como alvos por este ressurgimento e, também, protestando contra as reuniões internacionais da extrema-direita, com o intuito de se construir uma resposta verdadeiramente antifascista, antirrascista e anticapitalista.
Desta forma, é importante tanto no dia 26 de abril, no Campus da Justiça em Lisboa, como no fim de semana de 13 e 14 de maio, mostrarmos que a resistência antifascista existe, persiste e que tudo fará para contribuir para um mundo mais igualitário, capaz de abraçar toda a gente - independentemente do seu género, raça e origem.