Presidenciais 2021: O perigo fascista cresce, mas a resistência está na rua
By Rede Unitária Antifascista
- 5 minutes read - 856 wordsO resultado das eleições presidenciais do dia 25 de Janeiro de 2021 foi simultaneamente previsível e amargo. Previsível pela vitória esmagadora do atual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa; amargo pela corrida renhida entre Ana Gomes e André Ventura, e pela débil votação em João Ferreira e Marisa Matias. Já a elevada taxa de abstenção faz exagerar pequenas variações na expressão do voto, resultado da alienação provocada por uma democracia doente, acrescida às centenas de pessoas que não puderam votar devido à pandemia da COVID-19.
Durante o período de campanha, a Rede Unitária Antifascista (RUA) não foi meramente um espectador passivo. Começando por criticar a falta de uma unidade à esquerda contra a extrema-direita, apelamos de seguida ao voto nas três candidaturas à esquerda: Ana Gomes, João Ferreira e Marisa Matias, em linha com as diversas opiniões que se manifestam dentro da nossa rede, e apelámos à necessidade de ir votar. Mas, acima de tudo, apoiamos as manifestações antifascistas que aconteceram pelo país e que marcaram a campanha a nível nacional.
O perigo fascista cresce
Durante a campanha, o candidato racista encontrou, em quase todas as suas paragens, contestação popular. Começando por aquela que dava a “Mal-Vinda” a Marine Le Pen em Lisboa, passando pela icónica manifestação cigana em Serpa e pelo hilariante caso do esqueleto. Estas manifestações, que brotaram por todo o país, revelaram setores da juventude e do povo consciente e dispostos a lutar contra o retrocesso civilizacional que esta campanha representa. Foi esta força que impediu uma marcha vitoriosa de Ventura, que se viu constrangido por não conseguir mobilizar as suas bases e ocupar sozinho as ruas. Tal constrangimento foi posto a nu pelo jocoso espetáculo de teorias da conspiração, com supostas carrinhas que transportavam os manifestantes pelo país. Estas mobilizações são de máxima importância, por darem corpo a uma resistência que será necessária daqui para a frente .
Apesar destas mobilizações, as urnas contaram uma outra história. Mesmo tendo perdido o segundo lugar, o candidato de extrema-direita foi quem saiu mais reforçado eleitoralmente desta campanha, conseguindo angariar mais 400 mil votos que nas legislativas. Claro que as votações nas presidenciais não devem ser comparadas com as legislativas, mas estes números revelam que a ala mais autoritária do capitalismo está em crescendo, e tornam urgente a necessidade de a combater de frente.
A esquerda sai enfraquecida
Não há dúvida que a esquerda deve refletir seriamente depois daquele que é o seu pior resultado de sempre numas presidenciais. É certo que parte desse resultado vem do PS não ter apoiado formalmente nenhum candidato, reforçando, desta forma, a candidatura de Marcelo. Mas isso, por si só, não explica as baixas votações em Ana Gomes, muito menos em Marisa Matias e em João Ferreira.
O grande erro que a esquerda cometeu nestas eleições foi precisamente aquele que a RUA apontou desde o início: a inexistência de uma candidatura única de esquerda que fosse alternativa a Marcelo e Ventura. Uma candidatura única seria capaz de relegar Ventura para um distante 3º lugar, atrás de toda a esquerda, mobilizando e energizando uma parte do eleitorado, que veria com muito mais interesse estas eleições. Em vez disso, os diferentes partidos organizam-se numa lógica exclusivamente eleitoralista, pondo os interesses dos seus aparatos partidários à frente dos interesses do povo.
A RUA tem também apontado outro grande erro nas políticas da esquerda que se viu tragicamente confirmada nestas eleições: o vazio de uma oposição antissistema. Este vazio tem vindo a ser preenchido por Ventura, apesar de ele não ser realmente antissistema. Todos os candidatos de esquerda (e Marcelo) estão 一 uns mais diretamente, outros indiretamente 一 ligados à solução governativa atual, o que torna fácil a Ventura o trabalho de se declarar como a única oposição. Urge a construção de uma esquerda realmente combativa e antissistema para dar resposta ao (justo) descontentamento popular. Uma esquerda que aponte os problemas de corrupção, que aponte o financiamento ilegítimo na banca, os salários multimilionários nos grandes grupos económicos, a precariedade laboral, os salários de miséria, a falta de possibilidade de se arrendar casa, os custos da educação, da saúde, etc. Ou seja, uma esquerda que se demarque do Governo, que enfia milhões na banca enquanto que o povo aperta cada vez mais o cinto.
A luta continua
Para além desta luta política, estas presidenciais vieram mostrar também que a luta contra a extrema-direita e o fascismo se faz sobretudo nas ruas. O fascismo tenta conquistar a rua, mas a rua é do povo! Lisboa, Serpa, Castelo Branco, Vila Real, Guimarães, Coimbra e Leiria mostraram que o combate se fazem unidade e na rua. Expuseram uma juventude e um povo que não esqueceu os quase 50 anos de ditadura, e que está disposto a tudo para manter essa Liberdade.
Temos, portanto, o dever de nos organizarmos para lutar coletivamente e diariamente, para fazer política junto do povo trabalhador que tudo tem a perder com o fascismo. Na rua, a impedir a mobilização das forças reacionárias, onde quer que elas apareçam. E a exigir uma alternativa viável para as ânsias populares.
A RUA não faltará à chamada, há que juntar forças à resistência.
25 de Abril Sempre.