O fascismo não passou em Coimbra
- 3 minutes read - 638 wordsNos dias 28 e 30 de maio, o povo de Coimbra saiu à rua para deixar claro, mais uma vez, o seu repúdio pelas políticas reacionárias encabeçadas por André Ventura e pelo seu cúmplice italiano Matteo Salvini.
A derrota do simbolismo fascista
No dia 28 de maio de 1926 foi instaurada a Ditadura Militar em Portugal, que mais tarde deu origem à ditadura fascista Salazarista que assombrou o povo deste país durante quase meio século. Não é coincidência nenhuma que Ventura tenha escolhido esta data para o início do seu congresso, o qual decidiu inaugurar com uma vangloriosa marcha pela cidade. Pretendia terminar a marcha — como cereja no topo do bolo da simbologia ultra-nacionalista — na sepultura de D. Afonso Henriques, na Igreja de Santa Cruz; pretendia também vingar-se da humilhação que tinha sofrido pelo movimento antifascista nessa praça, durante a corrida presidencial.
Mas Coimbra não se deixou ser usada como amuleto pelo saudosista e organizou-se para o impedir de chegar à praça. Nesse dia, o movimento antifascista conseguiu mobilizar cerca de 250 pessoas que deixaram bem claro que “Fascista não entra aqui!”.
Mobilização popular frente à extrema-direita internacional
Apesar do seu foco nacionalista, a extrema-direta compreende muito bem a necessidade de coordenação internacional. É por isso que, durante a campanha presidencial, Le Pen veio ajudar Ventura. Da mesma forma, no dia 30, Matteo Salvini — líder do partido italiano LEGA de extrema-direita — veio discursar no congresso do CHEGA.
Novamente, Coimbra não se deixou usar como palco para discursos de ódio de assassinos como Salvini e montou uma forte resistência popular. O povo, dinamizado sobretudo por uma vanguarda juvenil, voltou a estar presente em força para deixar bem claro que estas políticas — que representam o recuo à idade média — não passarão.
Aos coletivos antifascistas de Coimbra, juntaram-se também vários movimentos de todo o país e centenas de pessoas sem nenhum tipo de organização, para ajudar a construir este dia de resistência. Conseguiu-se formar uma manifestação plural e multicultural, com a presença de cerca de 700 pessoas, que veio, mais uma vez, reforçar que só a mobilização, em unidade com as várias forças antifascistas, é capaz de ocupar o espaço público e de, assim, travar os avanços da extrema-direita.
A luta por uma alternativa política
A mobilização popular e plural, para além de sair à rua para combater o projeto fascista que se vai construindo, evidenciou que, desejando isso mesmo, é capaz de ignorar as suas divergências e unir-se para o combate de um inimigo que sente que nos ameaça a todos. Mas o povo também demonstrou que deseja, principalmente à esquerda, alternativas políticas que se mobilizem para a luta na rua, naquele que é o espaço democrático por excelência.
Para além da organização e mobilização populares, a luta contra o fascismo faz-se percebendo a raiz do problema. O problema não é ódio por si só, como se não houvesse ódio na sociedade antes do crescimento da extrema-direita. O problema está na falta de alternativas ao “status quo”. O povo está justamente descontente das injustiças da justiça — que beneficia os ricos e poderosos; das repetidas injeções na banca privada; do desinvestimento crónico nos nossos serviços públicos; etc. Quando não se apresenta uma alternativa a isso, quando não se explica que essas desigualdades surgem do próprio sistema capitalista, quando se pretende gerir “melhor” um sistema inerentemente desigual, abre-se a portas para demagogos “anti-sistema” que nada mais são que o lado mais sanguinário que o sistema tem para oferecer.
A luta contra o fascismo passa, em primeiro lugar, pela ocupação do espaço público dos setores mais oprimidos e explorados, pela construção de mobilizações plurais e unitárias, e pela construção de novas alternativas energizadas por essas mesmas mobilizações populares.
O fascismo não passou em Coimbra, mas Coimbra ainda não foi a tumba do fascismo. A luta continua!