Nem Marcelo nem Ventura
By Rede Unitária Antifascista
- 3 minutes read - 565 wordsAs eleições presidenciais em Portugal representarão uma nova possibilidade para a extrema-direita proto-fascista ganhar força e alento, e a esquerda com a sua divisão parece apostada em contribuir para essa hipótese.
A esquerda parlamentar - que passou os últimos cinco anos amarrada às políticas do governo que levaram, pelos seus efeitos negativos, ao ressurgimento da extrema-direita no país - cai agora no erro de não levar a sério a disputa presidencial apenas lançando candidaturas para marcar território.
Perante uma política do Governo de contínuo apoio aos grandes empresários e banqueiros do país, e falta de apoios aos trabalhadores e pequenos empresários durante a pandemia, tem-se elevado o grau de desespero destes últimos. Sem oposição à esquerda que lute pelas demandas destes sectores desesperados, eles voltam-se para as saídas autoritárias e de incentivo ao ódio da extrema-direita.
Um primeiro sinal disso foram os resultados eleitorais para o parlamento regional dos Açores: só assobia para o lado quem quiser. Mas se de um lado temos o Governo e os seus apoiantes à esquerda a dar gás à extrema-direita, agora temos o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o PSD a colocar fogo nesse gás. O PSD legitimando a política proto-fascista do Chega para chegar, a todo o custo e sem princípios, ao poder e Marcelo não só dando o visto, bem como patrocinando o acordo.
Marcelo mostra que toda a sua estratégia é trazer a direita ao poder, nem que seja com a extrema-direita atrelada, e demonstrando aos iludidos com os retratos fotográficos contínuos que os afectos dele são com o grande capital. O primeiro ministro, António Costa, que para manter a burguesia na mesma sala de refeição que a esquerda parlamentar, precisa da unidade com Marcelo, e apoia a recandidatura deste. Chegados há um ano tínhamos duas candidaturas: a da extrema-direita e a da direita que coopera com aquela.
Perante este cenário, as esquerdas, que se opõem às duas direitas, tinham a oportunidade de apresentar uma candidatura conjunta que certamente geraria o ânimo necessário nas massas populares para se fazer frente a dois desafios: obrigar Marcelo a uma segunda volta e não permitir a disputa do segundo lugar por parte de Ventura. No entanto, a disputa do seu território à esquerda é mais relevante do que o objectivo político de derrotar a direita e os proto-fascistas.
A incapacidade de enxergarem o mal estar, a ansiedade e a confusão que gerarão na massa trabalhadora, irá provavelmente traduzir-se em que de três candidaturas apenas uma consiga se colocar por diante do proto-fascista. A concretização desta hipótese será um balde de desânimo lançado sobre a esquerda e activistas, justo agora que a extrema-direita têm saído derrotada internacionalmente em eleições nos EUA e no Brasil. A unidade da esquerda em Portugal parece ser relativamente fácil para se apoiarem políticas austeritárias do Governo, mas impossível quando é impreterível o combate por princípios de valores democráticos, sejam de liberdade, económicos ou sociais.
A Rede Unitária Antifascista lamenta profundamente que a unidade necessária para uma candidatura de esquerda pela solidariedade, pela fraternidade, pela liberdade do povo trabalhador não tenha sido o critério fundamental para combater a direita e a extrema-direita, e o resultado poderá ser desastroso.
Este e outros artigos estarão disponíveis nesta edição do Antifacho, junto com um suplemento das diferentes posições de voto dos activistas da RUA, na impossibilidade de uma candidatura única.
Nem Marcelo, nem Ventura. Candidatura de esquerda única.