Legislativas 2022: O que se passou?
- 4 minutes read - 842 wordsDepois do circo mediático típico destes períodos eleitorais, onde se discute quase tudo menos política: com sondagens que variavam drasticamente de dia para dia, fotos de gatos e cães, negacionismo das alterações climáticas, músicas e tempos de antena sem nexo, etc. Depois disto tudo, eis que chegaram os resultados destas eleições: um desastre para a esquerda e uma brutal reorganização da direita. O PS conseguiu aquilo que se julgava impossível: uma maioria absoluta. O PSD manteve praticamente os mesmos resultados de há dois anos, a direita mais reacionária conseguiu ficar em terceiro e em quarto lugar, abrindo espaço para a reorganização da direita com um programa ainda mais de miséria para as populações mais vulneráveis. O BE perdeu mais de dois terços dos seus deputados - passando de 19 a 5 -, e o PCP, com uma base eleitoral mais sólida, perdeu metade dos deputados, um deles o presidente da bancada parlamentar, João Oliveira. O PAN, nas suas contradições, mais preocupado em apoiar tanto um governo PS como um governo PSD, voltou a estar reduzido a uma só deputada. E, claro, o CDS, que não conseguiu convencer o resto da família a votar nele, eclipsa-se da assembleia da república.
A surpresa absoluta
A grande surpresa da noite foi sem dúvida a maioria absoluta do PS, mas esta maioria absoluta não significa um grande apoio popular às políticas do PS. Na realidade, é sim um grande sinal daquilo que o povo não quer: um governo de direita apoiado pela extrema-direita. As sondagens que, desprovidas de qualquer critério científico, previam uma corrida renhida entre o PS e o PSD, tiveram um papel fundamental para influenciar os eleitores na lógica do “voto útil”. As marcas do último governo PSD/CDS ainda estão bem presentes naqueles que se viram à rasca com salários cortados e os seus direitos destruídos, enquanto os ricos e poderosos deste país ganhavam ainda mais poder. A perspectiva de um governo desses, desta vez apoiado pela extrema-direita, era insuportável, motivando muita gente a meter a cruzinha no PS.
A esquerda sai enfraquecida
A pressão para o “voto útil” foi parte da razão pela queda brutal que a esquerda teve, mas não foi a principal razão. Como seria de esperar, depois de 6 anos a esvaziar as ruas para sustentar um governo burguês que atacou os trabalhadores e o seu direito à greve, que nem sequer reverteu as leis laborais da troika, o BE e PCP saem altamente desgastados. Este enfraquecimento eleitoral já se vinha a expressar nas autárquicas, e foi apenas isso que levou a esquerda a chumbar o OE2022, passado anos a criar ilusões em Orçamentos do Estado praticamente iguais. Agora, a mesma esquerda que se juntou ao PS para “virar a página da austeridade” e “afastar a direita” vê que nenhuma dessas promessas foi realizada. As leis laborais da troika continuam vigentes, as privatizações não foram revertidas e o investimento nos serviços públicos continua anémico. A direita, mergulhada em crise depois do desastroso governo PSD/CDS, começa agora a reorganizar-se, aproveitando o vazio de uma oposição anti-sistema tradicionalmente encabeçada pela esquerda parlamentar.
As alas mais reacionárias da direita ganham mais espaço
Foi pela ausência de uma oposição anti-sistema que forças como o Chega e a Iniciativa Liberal se consolidaram. Apesar de serem forças completamente enraizadas no sistema, vindas e financiadas por ele, conseguem apresentar-se como oposição chamando ao sistema de “socialismo”. Com esta jogada retórica da mais baixa desonestidade intelectual, conseguem, por um lado, evitar dizer que o verdadeiro problema que afeta as pessoas é o capitalismo e, simultaneamente, manchar o nome do projeto socialista. Como terceira força política, a extrema-direita do chega apresentou o seu candidato para vice-presidente da Assembleia da República, Diogo Pacheco de Amorim: um antigo militante terrorista da MDLP, organização envolvida em vários assassinatos no pós-25 de Abril. Agora a verdadeira cara da direita começa a revelar-se: a Iniciativa Liberal já anunciou que não vai votar contra o candidato bombista do Chega e o PSD também diz que não se opõe. Na realidade, a IL e o Chega têm programas económicos muito semelhantes, a única diferença é a forma como o vendem. Ambos defendem o desinvestimento absoluto nos serviços públicos e que se deixe morrer à fome milhares de pessoas para engordarem os mais ricos. Ambos negam que as alterações climáticas estão a levar o planeta ao limite da extinção, e usam e abusam de uma retórica demagógica e populista para impor mais miséria às populações - em especial às pessoas mais marginalizadas, como as mulheres, as pessoas LGBT+ e as pessoas racializadas.
A luta é na rua
O reforço no parlamento dos partidos mais reacionários mostra que o papel da luta antifascista é ainda mais importante. É crucial estarmos organizados para impedir todo este recuo civilizacional. Por isso, convidamos toda a gente que se revê no nosso projeto a juntar-se a nós. É urgente montar uma resistência à direita e à perigosa maioria do PS: mobilizar as ruas e fortalecer as nossas organizações, para podermos construir um futuro em que sejamos todos verdadeiramente livres.
Junta-te a nós!