5 Motivos para sair à RUA no 8 de Março
- 9 minutes read - 1779 words1. Pelas sobreviventes da Violência de Género
Não é novidade que em Portugal há uma normalização e perpetuação da violência contra as mulheres, situação que se tem agravado desde o início da pandemia.
São as mulheres que estão na linha da frente como profissionais de saúde, nos supermercados e nas limpezas, a deslocarem-se em transportes públicos que há muito são subfinanciados, a garantir que o país não pára numa altura como a que vivemos.
São também as mulheres as mais violentadas. Segundo o site da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, em contexto de violência doméstica no ano passado, foram assassinadas 27 mulheres, quatro homens e uma criança de 9 anos, a Valentina.
Ora, não basta serem as mais afetadas pela pandemia que mais cortes têm no salário por ficarem de assistência à família, as que mais facilmente ficam em lay-off por terem salários mais baixos, como ainda a questão do confinamento é uma “lua-de-mel” para os agressores, que por razões óbvias limita as vítimas de fazerem uma denúncia.
Por isto mesmo é que é tão importante sairmos à rua no dia 8 de Março! Com toda a segurança, a luta não pode confinar!
2. Pelas companheiras da linha da frente, que nunca pararam
Numa crise sanitária como a qual vivemos na actualidade, a importância do papel da mulher na nossa sociedade mais uma vez faz-se sentir, talvez tão forte como nunca antes!
Na linha da frente, as mulheres são a grande maioria e constituem 55% do pessoal Médico - segundo o PORDATA - a par de 82% dos Enfermeiros em actividade (INE - Estatísticas da Saúde 2017).
Constituem ainda a maioria da força de trabalho essencial, no Comércio, na Limpeza, nos Serviços Sociais, na Educação, e etc, representando 57% da força de trabalho no sector terciário em Portugal (PORDATA).
E como se não bastasse serem o género mais exposto aos riscos directos durante a pandemia, as mulheres são ainda a maioria por entre todos os que sofrem as maiores consequências da crise económica que nos afecta, representando a maioria de entre as vítimas dos baixos salários, para além de serem as maiores vítimas do desemprego.
Para que a data de 8 de Março não se resuma à uma celebração condescendente ao papel da mulher na sociedade, a luta não deve confinar!
3. Pelas companheiras em teletrabalho que estão, em simultâneo, presentes na vida profissional e familiar.
Ao longo da História, as mulheres sempre foram muito mais sobrecarregadas com o trabalho do que os homens, para além de trabalharem para a entidade patronal também têm a seu cargo as tarefas domésticas e cuidar dos filhos e muitas vezes dos progenitores. Neste momento, com a pandemia estão ainda mais sobrecarregadas de trabalho e a pressão é tanta que ou fazem ou arriscam-se a perder o seu emprego ou uma parte ou a totalidade do seu sustento familiar.
As companheiras em teletrabalho estão a trabalhar desde casa, ou seja, num espaço que não foi concebido para exercer a sua atividade profissional, para além de não ser o local ideal ainda têm de acarretar com as despesas de luz, internet e muitas vezes estão a o usar os equipamentos digitais pessoais.
Muitas vezes ouve-se dizer que os horários do teletrabalho são flexibilidade, mas essa flexibilidade traduz-se em ter horário para começar e não ter hora para acabar. Em teletrabalho trabalha-se não o dobro, mas sim o triplo de horas, horas essas que não são remuneradas.
Com as escolas fechadas e todas as outras atividades como ATL’s, parques, museus, clubes desportivos entre outros, as mulheres enfrentam um enorme desafio quotidiano que consiste em conciliar o desempenho profissional (como por exemplo, atendimento telefónico, reuniões por videoconferência), com o cuidar e auxiliar familiares. Esta situação provoca nelas um medo, uma ansiedade, um stress o que acaba por fragilizar a sua autoestima e a sua saúde emocional. O fecho das escolas acresce a necessidade de auxiliar as crianças nas tarefas escolares e dar apoio na utilização dos suportes digitais
Em pleno século XXI, ainda há muitos lares onde a maior parte das mulheres não podem contar com o companheiro ou outra pessoa para compartilhar as tarefas domésticas. Esta situação, ainda agrava-se muito mais quando a mulher é mãe sozinha ou é família monoparental.
Em face do que foi mencionado, fácil é compreender que as mulheres têm um horário diário extremamente longo e interminável que começa de manhã bem cedo, mas que não tem horário fixo para terminar, arrastando-se pela noite dentro.
4. Porque o levantamento da extrema-direita ameaça os direitos e conquistas das mulheres
A alucinação, a ignorância e o ódio são gritantes quando se fala das políticas e ou ideias escancaradas vindas da extrema-direita ou de partidos extremamente conservadores contra as mulheres. É fácil rir de um André Ventura ou de um Trump se não fosse a opressão e a secundarização das mulheres, que estão no ADN da extrema direita.
Temos já vindo assistir a vários atentados aos direitos das mulheres por parte desta extrema direita, podendo falar mais uma vez na situação da Polónia, sobre o direito ao aborto que se tornou completamente impossível, sabendo nós que já antes desta lei, era quase impossível porque os médicos apelavam que motivos “religiosos” não poderiam fazer.
Partindo do pressuposto de que existe uma tendência para tratar as mulheres de direita como anómalas, podemos analisar a reapropriação do discurso feminista pela extrema-direita na Europa, com a proeminência de altas figuras políticas femininas como Marine Le Pen, líder do partido francês Le Rassemblement National, Anne Marie Waters, líder do partido anti-islâmico britânico For Britain, e Alice Weidel, co- líder do Alternative für Deutschland (AfD). Defende-se que este discurso “femonacionalista” desestabiliza a diluição interseccional de fronteiras entre categorias “oprimidas”, combinando retórica anti-imigrante e antimisógina, tendencialmente enquadrada de acordo com um princípio organizador antimuçulmano. Ao violar as categorias da política de identidade, segundo a qual a identidade de um individuo – seja ela de género, sexual, racial ou baseada em classe – determina a sua preferência ideológica , as mulheres líderes da extrema-direita estão a contribuir estrategicamente para a reinscrição da genealogia da mobilização feminista, tradicionalmente conotada com uma tradição intelectual e activista de esquerda.
Mas não é só a extrema-direita que atenta contra as liberdades e conquistas de direitos das mulheres. Estas tentativas de retrocesso estão também bem patentes nas políticas neoliberais capitalistas, qual lobo vestido de ovelha, que fazem com que se ache legítimo que a CIP - Confederação Empresarial de Portugal
promova uma conferência sobre a desigualdade de género no trabalho, com um painel exclusivamente masculino constituído por magnatas corporativos, e assuma que assim o deve ter, por caberem aos “líderes masculinos” essas considerações. Por muito que se tentem distanciar, na esfera do comentário público, dos “extremos”, a realidade é que o neoliberalismo e o fascismo andam de mãos dadas, e são uma e a mesma face da moeda.
A luta das Mulheres é um legado histórico, sim, mas que está longe de abrandar ou de confinar. No 8 de Março saímos à #RUA porque não damos nem um passo atrás.
5. Porque a Greve Feminista é uma das maiores reconquistas dos últimos anos
O Dia da Mulher Trabalhadora surgiu como ideia em 1910, durante a conferência da Internacional Socialista. Clara Zetkin propôs a criação de uma jornada anual de protestos em prol dos direitos das mulheres, mas sem fixar uma data específica. A primeira comemoração oficial deu-se em 19 de março de 1911. Em 1915, Alexandra Kollontai organizou uma reunião em Kristiania, perto de Oslo, contra a guerra. A 8 de março de 1917, houve uma greve de trabalhadoras russas do sector de tecelagem, a que se juntaram os operários metalúrgicos - considerada por Trotsky como espontânea e não organizada, a greve teria sido o primeiro momento da Revolução de 1917.
Mas ao longo do século, o 8 de Março perdeu a sua força para se esbater como uma celebração inócua e diletante do capitalismo, recheada de flores e de síndrome de estocolmo. Nos últimos anos, o movimento feminista recuperou a retórica combativa da data, e resgatou das mulheres do mundo o fogo que lhes brilha nos olhos.
Porque as mulheres continuam a ser as mais pobres, e as mais afectadas pela precariedade. As mulheres continuam a ser as principais vítimas da violência machista. As mulheres continuam a não ter domínio pelos seus corpos.
E são as mulheres quem sustenta a sociedade - o último ano, em pandemia, tornou ainda mais evidentes as desigualdades e o quanto dependemos das mulheres - são elas quem assegura a continuidade dos trabalhos essenciais, na linha da frente, são elas quem assegura a reprodução social, nos cuidados à família, e são elas, constantemente, as mais desvalorizadas, discriminadas e prejudicadas pelo facto de serem quem são - mulheres.
Em 2017, pelo mundo, dissemos que chega de celebrações fúteis - no 8 de Março as mulheres estão em greve, porque sem nós o mundo pára.
Fazemos greve ao trabalho assalariado, porque basta de precariedade, e exigimos melhores condições de trabalho. Fazemos greve ao trabalho reprodutivo, esse alicerce invisível sem o qual se desmoronam as famílias, porque a dupla jornada pesa nos nossos ombros - precisamos de mais creches, lares, cantinas e estruturas gratuitas de apoio ao trabalho doméstico.
Fazemos greve ao consumo, porque numa sociedade em que tudo e todxs parecem descartáveis - as mulheres não o são. E fazemos greve estudantil, por maior igualdade num sistema de ensino que despreza, assedia e discrimina as investigadoras, as engenheiras, as cientistas, as astronautas, todas as meninas e mulheres cujos sonhos e aspirações são domesticados e aquietados por uma história que se incomoda por nos ver iguais.
Saímos à rua pela greve feminista em 2017, 2018, 2019 e 2020, com os números de mulheres a subir de ano para ano. E saímos à rua em 2021 porque a pandemia manda mais mulheres para o desemprego, e nos confina com agressores. E porque nos querem dóceis e submissas, mas não há debates digitais, rodas de conversa nem performances online que nos resgatem quando nos roubam os direitos que tanto custaram a conquistar.
Saímos à rua na greve feminista porque não damos nem um passo atrás. Por nós, e pelas companheiras que não nos podem acompanhar.
Junta-te à luta
Dia 8 estamos na #RUA:
- Algarve, no Mercado Municipal de Faro, pelas 11:30
- Braga, na Avenida Central, pelas 18:30
- Coimbra, na Praça 8 de Maio, pelas 17:00
- Lisboa, na Praça D. Pedro IV, pelas 18:00
- Porto, nos Aliados, pelas 18:00
- Ponta Delgada, nas Portas da Cidade, pelas 18:00
- Terceira, na Praça Velha, pelas 18:00
- Barcelos, na Porta Nova, pelas 19:00